Pensar Direitos Humanos: O Mundo em Desalinho na encruzilhada da pandemia da Covid-19

“Que viva em um tempo bom!” é uma antiga saudação chinesa
aos pais do recém-nascido, sabedores de que a maior parte do
êxito daquela pessoa em formação virá das possibilidades sociais,
culturais e da estabilidade política que permitirão suas boas expectativas
existenciais. Independentemente das virtudes individuais,
o contexto que permite uma vida que se abre aos seus potenciais
ou que se forma em lutas, pela desesperada sobrevivência
ou pelos ideais coletivos, é o que acolherá os indivíduos em seu
movimento histórico, o qual, em meio a turbulências e calmarias,
engolirá alguns, enquanto plenificará outros.
Hoje vivemos num tempo turbulento, de grandes demandas e
de alto custo social, aquele custo que é mensurado pela unidade
básica da política dos direitos humanos – a dignidade humana. A
medida para a qual todas as lutas emancipatórias concorrem, a de
proteger a pessoa, independentemente de quem seja, dos grandes
movimentos de autofagia social, dos grandes fins políticos que
podem utilizar o indivíduo como meio, das determinações naturais
às quais não queremos aceitar que imperem totalmente sobre
nós. Assim, diante dessa onda fenomenal que conjuga o fim de
um ciclo histórico (a possível crise do capitalismo e da democracia
liberal), o governo dos mercados financeiros (e o fechamento
político ao qual parecem conduzir), o desenvolvimento científico
emancipatório (e o fim do humanismo, de certa hegemonia cultural
e epistêmica, além de incontornáveis limites ambientais),
poderíamos exortar aos recém-pais de nosso tempo, felizes e ansiosos:
“que tenha força e sorte”, pois sobre o tempo já sabemos
que não permitirá paz.

Publicação EDUEPB disponível no site: http://eduepb.uepb.edu.br/e-books/