A cordialidade é colonialidade à brasileira? Novas reflexões a partir da releitura invertida de "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda

Estamos verificando uma tendência de articulação do pensamento de autores nacionais com o pensamento de autores transnacionais, para produção de teoria social atual, a partir da releitura de clássicos do pensamento social e político brasileiro em chave, por exemplo, pós(de)colonial. Essa tendência faz parte de um movimento maior de (re)escrita da Sociologia através de novos olhares e suas contribuições teórico-metodológico-epistemológicas. Nesse contexto, o presente trabalho dá continuidade às reflexões apresentadas no V Fórum Discente de Sociologia Política e aponta caminhos para um diálogo decolonial com Sérgio Buarque de Holanda, a partir da releitura invertida de “Raízes do Brasil”, um dos principais clássicos do Pensamento Social e Político Brasileiro. A questão central é: a cordialidade seria colonialidade à brasileira? A hipótese é de que a cordialidade, enquanto brasilidade forjada no período colonial, contribui para pensar (de)colonialidades. Para responder à questão, utilizo o conceito de crioulização como estratégia metodológica e aproximo o pensamento de Sérgio Buarque ao pensamento de alguns autores decoloniais, como Paulo Freire, Lélia Gonzales e Ailton Krenak, centrando a análise no encontro colonial (enquanto dialética entre colonizador/opressor e colonizado/oprimido) e na colonialidade (como continuidade, reprodução e atualização das diferentes formas de dominação sobre indígenas, africanos e mulheres). Trata-se, portanto, de um pequeno esforço teórico e bibliográfico de pensamento, cujo objetivo é apresentar alguns pressupostos e determinadas pistas para a reelaboração crítica do conceito de cordialidade buarqueano. A relevância desse exercício é contribuir para os estudos e pesquisas em pensamento social e político brasileiro, bem como de intelectuais e ideias.