Território (re) inventado: artistas mediadores no processo de construção da Zona Cultural Baixo Centro em Belo Horizonte

A dissertação que se apresenta ao longo destas páginas procura compreender como um território, sedimentado por várias camadas ao longo do tempo, associado ao imaginário do vazio e da precariedade, típico das cidades modernas, foi ocupado nos últimos anos por estratégias auto e parcialmente sustentáveis de promoção da cultura, que passam a emergir das ruas, praças e viaduto da região Baixo Centro em Belo Horizonte. Até o final da década de 1990, este foi um espaço pouco concebível para a arte e cultura, sendo delegado a servir de passagem ao trânsito da cidade ou de abrigo a quem, por uma série de fatores, foi e se colocou à margem de um sistema que não o acolhia. Introduzindo alguns elementos e conceitos importantes para a investigação, como a mediação, na relação com a experiência do artista neste cenário, procuro refletir sobre os mapas que se apagam e se reinscrevem de outras formas, na cartografia que acompanha o surgimento de novas imagens em um horizonte com outros ideais de beleza. Mais a fundo, procuro traçar uma revisão do que se entende por território ao longo do tempo e as diferenças existentes entre espaço e lugar, traçando uma breve narrativa das mudanças e permanências pelas quais o conjunto arquitetônico e paisagístico Praça da Estação e, por extensão, o Baixo Centro passou. Continuando a trajetória, enveredo-me pela tentativa de compreender o diálogo entre os movimentos localizados neste território e tempo com as práticas precedentes de artistas na ocupação do espaço público, com os experimentos no campo da arte conceitual e relacional, embarcando na deriva das situações que colocam a ação artística na fronteira dos ativismos contemporâneos dos últimos anos. Uma hipótese é levantada, a de que artistas, enquanto mediadores, atuam em rede na formação de um público que demarca a Zona Baixo Centro, deslocando para a experiência deste lugar o quadro analítico ator-rede. Aqui não há discriminação de fontes, como para o cartógrafo, toda imagem, todo rastro pode servir como sinal de um acontecimento.

The dissertation presented in the next pages attempts to understand how a territory, that has been sedimented over time by several layers, is associated with the imagery of emptiness and precariousness, typical of modern cities, how it has been occupied in recent years by self and partially sustainable strategies to promote culture, which begin to emerge from the streets, squares and overpasses of the Baixo Centro region in Belo Horizonte. As we shall see, up to the end of the 1990s, this was an inconceivable space for art and culture, being delegated to serve as passage for the city's transit or shelter to those who, by a series of factors, were marginalized by a system that did not welcome them. We begin by introducing some important elements and concepts for this investigation, such as mediation, in relation to the artist's experience in that scenario, reflecting on the maps that are erased and reinscribed in different ways, in the cartography that accompanies the appearance of new images in a horizon with other ideals of beauty. We will go deeper, where we seek to trace a revision of what is meant by territory over time and the existing differences between space and place, drawing a brief narrative of the changes and the permanences which the architectural and landscape complex of Praça da Estação and, by extension, the Baixo Centro went through. Continuing the trajectory, I focus in trying to understand the dialogue between the movements located in this territory and time, with the practices of previous artists in the occupation of public space, with the experiments in the field of conceptual and relational art, embarking on the situations that put artistic action on the frontier of contemporary activism in recent years. One hypothesis is raised, that artists, as mediators, act as a network in building an audience that demarcates the Zona Baixo Centro, shifting the actor-network analytic framework to this place’s experience. There are no discrimination of sources here, as for the cartographer, any image, any trail can serve as a sign of an event.