Mediar a presença nas artes visuais, ou, sobre o gesto e o sensível

Este trabalho investiga em que medida o conceito de presença em Hans Ulrich Gumbrecht pode subsidiar o campo da mediação em artes visuais. O estudo parte do pressuposto que a obra de arte enquanto forma poética abre espaço para uma relação com a substância do mundo. Ao mesmo tempo, instaura uma situação de tensão com a dimensão de sentido proposta pela hermenêutica. Trata-se de um contraponto à situação delineada por Jonathan Crary e Walter Benjamin sobre dois traços da modernidade: o surgimento da categoria de observador e o cancelamento da experiência. Nessa perspectiva, a experiência estética possibilita formas mais complexas de relação com o mundo do que a simples interpretação. A pesquisa se serve de uma constelação de conceitos não-hermenêuticos: o “sensível”, em Emanuelle Coccia, como campo no qual os fenômenos afetam nossos sentidos; o “gesto”, em Vilém Flusser, como modalidade de produção do sensível fora da dimensão da interpretação; o “aparecer”, em Martin Seel, como a manifestação da presença no sensível; e a “função poética,” em Jean-Luc Nancy, como acesso à presença e suas aparições. Finalmente, a partir de Jacques Rancière, pretende-se inscrever a prática da mediação em artes visuais no âmbito da “partilha do sensível”, no qual o regime das artes tem a vocação de perturbar uma lógica de hierarquização da produção, difusão e compartilhamento dos discursos. Desse modo, a experiência estética através da obra de arte pode representar um lampejo de sobrevivência das experiências autênticas e emancipadoras.